Na última sexta-feira, dia 17 de junho, a equipe Sul 1 (que se reúne regularmente às sextas-feiras no CEU Caminho do Mar) fez sua primeira reunião itinerante. Fomos para o CEU Meninos, onde estiveram conosco a Lilian Morais (coordenadora de cultura do CEU), o Rodrigo (técnico de luz do CEU e diretor do grupo Os Perturbados, que tem orientação de dança e de teatro pelo Vocacional) e o Fábio (técnico de som do CEU).
Seguem os textos que levamos para disparar nosso bate-papo.
Em breve, também, imagens dos recortes fotográficos que fizemos, em uma rápida caminhada pelo CEU Meninos.
“Em geral, mantemos o corpo adormecido. Somos criados dentro de certos padrões e ficamos acomodados naquilo. Por isso digo que é preciso desestruturar o corpo; sem essa desestruturação não existe nada de novo. Desestruturar significa, por exemplo, pegar um executivo ou uma grã-fina, desses que buscam as academias de dança e, colocando-os descalços na sala de aula, fazer que dêem cambalhotas. Esse é o caminho para a desestruturação física, que dá espaço para que o corpo acorde e surja o novo. No fundo, é uma mudança de ritmo: se vou todos os dias pelo mesmo caminho, não olho para mais nada, não presto atenção em mim ou no ambiente. Mas se penetro numa rua desconhecida, começo a perceber as janelas, os buracos no chão, despertando para as pessoas que passam, os odores, os sons. Se o corpo não estiver acordado é impossível aprender seja o que for.”
(A Dança, Klauss Vianna)
(...) A crítica de Paulo Freire aos processos de ensino e aprendizagem da leitura da palavra feita nas décadas de 1960-70 e que se estendem até hoje não pode ser mais ignorada pelo universo da dança - ensinar e aprender a ler é um ato eminentemente comprometido com as relações sociais, com a vida em sociedade, com estar no mundo e vivê-lo conscientemente. Ler não é passar por cima das palavras, dizia Freire. Passar por cima das palavras sem entendê-las, sem pensá-las ou sentí-las, sem criticá-las e relacioná-las a um contexto maior é uma atitude absolutamente ingênua - ou perversa - nos dias de hoje.
Parafraseando Paulo Freire, ler a dança também não é passar por cima dos passos e dos movimentos, decorá-los e usá-los corretamente nas apresentações de fim de ano. Ler uma dança não é o mesmo que possuir habilidades corporais e técnicas específicas, vocabulário preciso ou o código padrão aprovado pelo senso comum para reproduzir coreografias prontas. Ler criticamente a dança - dançar, assistir, compor, pesquisar, produzir, ensinar - passa por outros caminhos que não o da memorização surda, da cópia inconsciente, da reprodução mecânica.
Nessa linha de raciocínio, "não fazem sentido" processos de ensino e aprendizagem da dança que não proponham múltiplas leituras críticas com/do mundo. "Não fazem sentido" processos de ensino e aprendizagem da dança que não (re)tracem teias claras, abertas, flutuantes e significativas entre seus atores - alunos, professores, diretores, coreógrafos, intérpretes, apreciadores, pesquisadores, produtores - e as redes sociais globais. (...)
Em outras palavras, não basta nos jogarmos no suor da dança, nos embriagarmos de experiências visuais ao assistir a danças, termos êxtases criativos ao produzir, compor e pesquisar. As relações dessas experiências e experimentações, certamente articuladas para que permitam e se abram também para leituras possíveis de mundo. (...)
(Linguagem da Dança - Arte e ensino, Isabel Marques)
Uma ação cultural de criação é um processo coletivo e interativo, aberto para a criação. Nela, o mais importante é envolver as pessoas, ampliando suas oportunidades de diálogo, de reflexão e de construção de sentido para além daquilo que lhes é dado.
Segundo Teixeira Coelho, ela pode partir das mais diversas formas, como de um espetáculo, de uma exposição, de um evento público, pois o termo criação não corresponde à construção física de uma obra, mas a todas as relações das pessoas entre si e com o produto cultural de forma a criar as condições de reflexão e de expressão cultural.
Na ação cultural de criação, diferente de ações culturais convencionais, não existe um fim pré-determinado, previamente estabelecido e controlado, como o consumo de um livro, de uma peça teatral ou de uma idéia, mas um conjunto de possibilidades que permite mais largamente o envolvimento, a apreensão do novo, o entendimento e a satisfação.
Por isso, se diz que a ação cultural de criação existe como uma aposta, por que ela deve trabalhar com o imprevisto, o inesperado que surge no processo com a ação das pessoas que dela participam. Ou seja, tudo aquilo que surge a partir da proposta inicial, pode ser incorporado como parte da ação, deixando o público de ser meramente consumidor para ser agente de transformação.
(Ação cultural de criação: espaço aberto para a renovação do conhecimento, Projeto Curiaca. Porto Alegre/RS)