Reflexão sobre a reunião artístico-pedagógica, equipe Sul 2, USP, 15 de junho de 2011.
Tendo como objetivo ampliar e dinamizar reflexões sobre processos criativos, trocar experiências em outros territórios, enfim praticar nomadismo cultural / experimental , propus para minha equipe de AO's Sul 2 na nossa RAP do dia 15 de junho, participarmos de um evento realizado pelo núcleo de estudos do departamento de Antropologia e performance da USP, o núcleo "Na Pedra".
O tema "Corpo, Performance, Psicanálise"coordenado pelo o prof. Dr. João Gabriel da UFB, suscitou grande interesse na equipe.
Pedi à equipe para pós reunião me enviar por escrito uma reflexão /apreciação sobre esta experiência. Em anexo esta o relato realizado pela AO Liana Zakia Martins ( CEU Casa Blanca), que evidencia profundamente processos relacionais com a prática pedagógica artística do Programa Vocacional.
Miriam Dascal,
Coord. equipe Sul 2
Vocacional Dança
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Artista Orientadora: Liana Zakia
Reunião Artístico Pedagógica do dia 16 de junho de 2011
Visita ao grupo de estudos NA PEDRA, USP.
Palestra: Corpo, performance e psicanálise.
Professor Doutor: João Gabriel (Brasília, UNB) “Corpos em Obras”
Reflexões sobre o dia:
Para mim foi um encontro rico e com sentido em relação ao trabalho que desenvolvo no programa vocacional, primeiramente pelo fato de não trabalharmos diretamente com profissionais da área de dança, assim como foi a pesquisa apresentada na palestra, ou seja, buscamos em ambos os territórios de vivencias de processos artísticos. Deparo-me, portanto com questões muito semelhantes às apresentadas na pesquisa do Prof. João Gabriel. Segundo porque ter uma referencia de um trabalho desenvolvido em uma universidade, com a seriedade/moldes da academia, me faz perceber o quanto atual é a nossa proposta de trabalho, e também desafiadora. Retomar um olhar mais puro, menos automático, para refletir e compreender, através do olhar sobre outro processo, a importância do trabalho que realizamos no programa vocacional, já que em alguns momentos, por estarmos tão próximos e inseridos em um determinado contexto, não conseguimos visualizar nossos êxitos.
Algumas coisas, porém gostaria de deixar registrado e tenho certeza de que interferiram no meu “estar” daquele dia. O retorno ao ambiente universitário, me mostrando que nem sempre o que se encontra ali é o mais atual, mas tem sua riqueza como pesquisa. E que muitas iniciativas são pautadas por um pensamente já formatado dentro de uma idéia e conceito. Ou seja, para quem vive é uma grande experiência, mas para se ver/apreciar, fica um tanto raso. Senti falta de ouvir sobre performance e de ver mais relações criadas entre os três temas. Algumas colocações foram bem pertinentes, e tentarei conduzir minha reflexão nesse sentido.
A colocação de que a função de um orientador é de conduzir a uma prática corporal afim de criarmos disponibilidade no corpo-instrumento para que o indivíduo possa realizar a sua performance a partir da dança. Desse modo, foram apresentadas estratégias usadas, para que buscassem sempre as expressões pessoais. Os estímulos sonoros foram muito usados, mas com a provocação de que buscassem novas formas de expressão, ainda que o ritmo fosse conhecido, como por exemplo, o samba. Essa é uma estratégia que também funciona na outra ordem. Com o A.D. Rua (Grupo do CEU CASA BLANCA), vejo que o caminho inverso pode ser rico. Ou seja, apresentar outras referências musicais para o movimento já estabelecido.
Uma questão muito interessante e que me faz refletir sobre minha prática é a colocação de que os orientados desejavam uma direção e não uma orientação. A segunda criava a sensação de que o professor não sabia onde queria chegar, e vejo aí uma ponte com a orientação de grupo que tenho feito, e que nas últimas semanas tem tomado um caminho muito bom, a medida que os vocacionados precisam compreender os nossos papéis como artistas orientadores, incentivadores, provocadores, mas não diretores. Quando isso ocorre, a mudança de comportamento é muito visível, já que para que o trabalho evolua, todos terão que estar presentes e ativos no processo, é como se cada um tomasse a responsabilidade e a escolha na participação e construção de um processo artístico. Com certeza, ainda que com todo o comprometimento, questões como aonde ir, porque ir, e como, surgiram, ainda bem!
Quebrar paradigmas e fugir dos clichês é uma busca constante, e árdua. A própria relação entre professores e alunos, no meu caso, artista orientadora e artistas vocacionados já é uma quebra de padrões. A troca rege a relação, que não se dá se ambos não tiverem disponibilidade e desejo de realizar um processo. Nada é conteúdo pronto, o conhecimento é conquistado. Na palestra afirmou-se que o desejo é essencial, no sentido de que é preciso desejar algo, almejar uma realização. Isso nos coloca frente a cada processo de vida, existencialmente falando, completamente modificados. É um desafio.
Outra questão que gostaria de levantar é a relação do prazer pelo movimento e do prazer pela forma. Quando avançamos na experimentação corporal, ato de coreografar movimentos, organizá-los segundo uma idéia, cria uma forma de dança, a qual tenho percebido ser muito importante no processo em dança para os vocacionados. Isso tem a ver com a visualização de idéias corporais, que ao tomar forma, recriam significados e abrem outras possíveis leituras. Mas mover-se organizadamente por meio de seqüências elaboradas por eles mesmos é com certeza um modo de vivenciar o processo em dança. Experimentar é muito importante, mas organizar a experimentação é ainda mais. É como assistir à uma aula teórica e escrever sobre ela. Organiza o pensamento e a idéia, sem dúvidas, quando se fala em criar coletivamente.
Outro ponto importante é a qualidade da relação que se desenvolve entre pessoas envolvidas em processos artísticos coletivos. Isso tem sido foco de observação no meu trabalho, tanto das turmas quanto do grupo. Como a dança e a arte podem fortalecer relações pautadas no respeito, na intimidade, na escuta, e o quanto isso modifica cada ser humano envolvido.
Na última quinta feira, fui com eles ao CEU Quinta do Sol, no “Quinta na Quinta”, evento do A.O. Ivo, e foi um encontro com tantas riquezas e que tem a ver com o universo da história das danças urbanas, que os próprios participantes levaram consigo. Costumo dizer que os meus vocacionados tem me levado a novas experiências, que com certeza refletem na minha prática artística.
Na sexta feira, recebemos no teatro do CEU Casa Blanca, o espetáculo “Peça crise” do Projeto DR. Mostramos nossos processos de trabalho para abrir a noite e em seguida assistimos ao espetáculo. No final, em uma roda de conversa fiquei muito impressionada com a abertura do olhar dos vocacionados, das leituras que fizeram, e da tranqüilidade em se colocar com questões, sensações e curiosidades.
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